sábado, 16 de junho de 2012

Criticar Xuxa é algo que virou moda

Minha infância foi caracterizada pelas apresentadores de programas infantis. Entre todas elas a que mais marcou minha infância foi a Eliana. A Xuxa sempre foi a apresentadora pop da Globo, que embora fosse a maior emissora do país sempre exibiu os desenhos mais chatos. Nisso, o SBT sempre foi imbatível. 

O tempo passou e eu cresci, é assim que acontece com as pessoas desde que o mundo é mundo. As apresentadoras também mudaram, assim como o seu público. Umas mudaram tanto que até viraram crentes, dessas bem chatas, caso da Mara Maravilha, que depois provavelmente deve ter gravado um ou dois albuns gospeis cuja fama é desconhecida. A Xuxa saiu dos programas diários e matinais para um remendado nas manhãs de sábado, um de adolescentes nas tardes de domingo. A Eliana foi fazer programas, vespertinos, na emissora dos evangélicos, a Record, usando crianças explicitamente em músicas que satirizavam outros elementos da TV brasileira. A Angélica, foi criando seus programas cheios de altos e baixos e fato é que todas elas, apresentadoras, que ainda resistem na TV apresentam programas efêmeros para falar de coisas irrelevantes. 

Embora atualmente eu ache as apresentadoras entendiantes, e por isso não me interesso por seus programas ou pelas coisas que elas têm a dizer, não as odeio, como muitas pessoas anônimas por aí declaram como se isso fosse motivo para se ter orgulho. Às vezes até as assisto as aparições das apresentadoras, mas por preguiça de trocar de canal ou por osmose. Foi isso o que aconteceu e assim assisti, depois de um tempo com maior atenção, a entrevista da Xuxa para o Fantástico. Notei também que durante a entrevista bombaram no Twitter os comentários criticando a apresentadora, o Fantástico ou a Globo. Porém, críticas destrutivas, efêmeras e sem profundidade, falavam de coisas sem importância, sobre a voz dela (que é bem peculiar), sua estética jovem apesar da idade mais avançada que possui, o apelo que a apresentadora tem com o público infantil e que os novos adultos, desprezam uma vez que já gostaram dela por isso e acham que criticando garantem que não serão mais aquelas crianças ingênuas e de mau gosto que gostaram da Xuxa, enfim.

É evidente que a Xuxa é criticável, porém toda crítica, independente de quem seja o homenageado, precisa  ter uma relevância e um sentido claro. É asqueroso e nada moderno, continua sendo medieval uma vez que é insensível atacar, relativizar ou mesmo caçoar da apresentadora por ela ter sido abusada. É como se a Xuxa por ser branca, loura, rica e famosa, talvez até por ser inconveniente e parecer algumas outras coisas socialmente nada elegantes, merecesse passar pelo que passou. Isso é insensível e eu sei que já disse que insensível, mas deixa eu enfatizar isso, cacete!

Além disso, vejo essa mecânica se repetir também com as crianças anônimas e que por isso não irão se tornar pessoas bem sucedidas. E aí, quantas vezes os adultos tem tratado as crianças abusadas como merecedoras daquilo que passaram? É o mesmo que ocorre com as mulheres que são estupradas e diz que elas o foram porque quiseram ou deixaram. É o mesmo que ocorre principalmente com os homossexuais no Brasil com cada violência que sofrem e justifica-se serem eles os culpados por terem uma vida desviada para os padrões morais da maioria, por escolherem um comportamento que a sociedade é bem hostil, por agirem de uma maneira entendida como provocante. 

Espero que nas zonas de guerra ninguém tenha a cidade destruída por mostrar o dedo médio para um tanque de guerra.

Ainda bem que temos ideias próprias e canais para publicarmos nossas opiniões de maneira livre e sem represálias. Contudo, é lamentável que o fato de se poder ter uma opinião tenha deixado o pensamento tão banal, uma vez que uma critica exige também responsabilidade, traduzida em um conhecimento claro sobre o que está sendo observado e do que as próprias ideias podem repercutir ou significar. Afinal, que propriedade alguém tem para falar da Xuxa por ela ser tosca quando a relativização que se faz do abuso sexual não tem nada de sofisticado ou elegante?