segunda-feira, 2 de julho de 2012

Por que João Campos é um oportunista


O deputado federal João Campos, PSDB-GO, fez um projeto de decreto para a Câmara dos Deputados que consiste em revogar as resoluções do Conselho Federal de Psicologia que proíbem os seus entes de tratarem a homossexualidade como doença e a propor cura para elas. De acordo com o deputado, a medida é autoritária, uma vez que proíbe as pessoas procurarem cura para aquilo que elas entendem como um problema, a sua sexualidade.

No entanto, o CFP baseia suas resoluções em ciência, que é o principio ao qual a psicologia está imersa. Isto quer dizer, em outras palavras que quando o CFP elaborou tais resoluções, foi levado em conta um processo pautado em método cientifico, que em grosso modo pode ser resumido como definir um problema – o sofrimento dos homossexuais a respeito de sua sexualidade – elencar quais são as causas – a incompreensão e a hostilidade social a respeito da homossexualidade, entre outras – e, portanto uma linha de ação, coisas que um leigo como o que escreve este blog não tem conhecimento para falar como devem ser.

Assim, passar por cima de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia, que também está pautado na Organização Mundial de Saúde e que também segue os mesmos princípios metodológicos, requer embasamento científico, estudos de casos comprovados, variados, múltiplos, elaborados e reanalisados por vários profissionais da área e que comprovem que a homossexualidade seja uma doença e depois, outros vários estudos, nos mesmos critérios, que comprovem que ela pode ser curada. Algo pouquíssimo provável quando os profissionais da psicologia afirmam que todos os estudos sérios que se tem e que são publicados levam à compreensão do contrário.

Somando-se a isso o deputado João Campos, que tem sim autoridade para falar sobre direitos, não tem autoridade para pedir o direito a cura da homossexualidade, uma vez que embora seja da área do Direito ele não é um profissional da área da saúde para poder falar em cura, muito menos da Psicologia, Psiquiatria, entre outras especialidades, para poder definir a homossexualidade como doença. Nem mesmo pelo fato de o deputado levar em conta a opinião de pessoas como a psicóloga cristã Marisa Lobo ele pode se pensar assim.

Por quê? Conforme analises de discursos que foram publicadas na internet por outros psicólogos, profissionais com a mesma opinião de Marisa Lobo não mostram estudos sérios que comprovem a ideia (talvez por que eles não existam?). E suas soluções não acabam com a homossexualidade. Na verdade propõe um comportamento que reprima essa sexualidade e repita atitudes de heterossexuais, o que é equivocado uma vez que a sexualidade não é apenas um conjunto de comportamento, logo a homossexualidade continua lá como a água fica em uma panela de pressão.

Além desses fatores, está pesando contra a propriedade com que Marisa Lobo e profissionais afins tratam o tema, está o fato dela se denominar psicóloga cristã, o que quer dizer na opinião dela um profissional de psicologia que orienta sua atuação profissional de acordo com os seus preceitos religiosos, o que é absurdo. Embora seja verdade que pessoas ao redor do mundo conduzem suas vidas conforme a fé que professam, assim também como não existe problema nisso, desde que tal conduta esteja limitada a própria vida daquela pessoa.

No entanto no caso de psicólogos cristãos o problema reside em outro lugar. Como esse profissional representa e tem a autoridade de uma ciência, a Psicologia, seus trabalhos têm que ter o mesmo valor em qualquer lugar do mundo, uma vez que o conhecimento é algo universal. Porém a religião que possuem não é algo universal, embora pense que seja. O que um cristão acredita como sendo verdadeiro não é o mesmo para um budista ou um judeu, às vezes nem mesmo para outro cristão. Por fim, a religião é algo pessoal, ser cristão é algo pessoal do psicólogo. Assim sendo não deve ser estendido ao universo pessoal do seu paciente, o que é antiético e que se fosse para ser assim não haveria a necessidade de se existir um psicólogo para ajudar as pessoas.

Por tais razões o projeto do deputado João Campos é um absurdo polivalente. Por trás da intenção de João Campos não existe a defesa de direitos, tanto é que ele é contrário ao projeto de lei da Câmara 122/06, que se aprovado criará punições também para os crimes de ódio contra os homossexuais. O que existe é um conchavo para a defesa de interesses comuns, uma vez que ele, a psicóloga Marisa Lobo e vários deputados e psicólogos pelo Brasil são parte de um grupo de evangélicos militantes, ou seja, aqueles que acreditam que todas as pessoas devam se converter à fé que eles, seus pacientes e eleitores possuem, que as leis, estudos e afins devam ser orientados conforme essa fé, transformando o país em uma espécie de teocracia, sem contar os atrasados e distorções nos avanços científicos do país.

Sendo mais claro, o projeto passa por cima da metodologia científica, da autoridade que somente os profissionais de uma área têm para falar sobre aquilo que estudam e lidam, joga por baixo a autoridade de um órgão de classe, a necessidade de se ter um curso superior e estudar a sério para receber um título. Afinal, alguém acredita no compromisso, conhecimento e qualidade da psicóloga Marisa Lobo? É possível acreditar nisso após visitar seu blog (encontrado em qualquer pesquisa do Google) e ver seu português sofrível, a fraqueza de seus argumentos, que usam mais versículos bíblicos do que exemplos científicos reconhecidos (na verdade nenhum)? É possível acreditar na ética e respeito existindo nela aquele jeito hostil de se referir às pessoas que discordam dela, ainda por cima evasivo quando é um de seus pares?

É evidente que para o bem da Ciência, da Democracia e principalmente das pessoas isto deve ser impedido! A aprovação de projetos como abrirá precedentes para que o Brasil continue um país cada vez mais atrasado em critérios de democracia e conhecimento, uma vez que é factual a não interferência religiosa no conhecimento cientifico dos países mais avançados do mundo. Também é fato que essa famosa bancada religiosa, da qual o deputado João Campos faz parte, não existe em países cujos direitos civis são mais abrangentes e democráticos do que no Brasil, no qual um grupo religioso faz política para negar direito a outros grupos em virtude de suas razões religiosas. Isto não é democracia!

Impedir esse projeto é algo maior do que o interesse dos homossexuais brasileiros, uma vez que este projeto e a sua justificativa é um jeito elegante de justificar e dar outro nome à perseguição empreendida pelos setores religiosos, do qual o autor do projeto faz parte, contra os homossexuais. Também é maior do que o interesse do Conselho Federal de Psicologia e de seus associados. Por quê?

Primeiro, porque uma vez aprovado projetos como este algo será factual, a intervenção religiosa no acesso à cidadania das minorias às quais os religiosos se opõem, neste caso os homossexuais. Futuramente, o direito das mulheres de decidirem pelo próprio corpo, a expressão de outras minorias religiosas, enfim. Segundo, irá desmoralizar a competência e a autoridade dos órgãos de classe, uma vez que determinar o que eles podem fazer ou não dependerá somente da vontade dos parlamentares inspirados no mais puro de suas ignorâncias, prepotências e egocentrismo. Um preço que logo a Ordem dos Advogados do Brasil, conselhos de Medicina, Odontologia, Engenharia, entre outros terão que pagar. 

sábado, 16 de junho de 2012

Criticar Xuxa é algo que virou moda

Minha infância foi caracterizada pelas apresentadores de programas infantis. Entre todas elas a que mais marcou minha infância foi a Eliana. A Xuxa sempre foi a apresentadora pop da Globo, que embora fosse a maior emissora do país sempre exibiu os desenhos mais chatos. Nisso, o SBT sempre foi imbatível. 

O tempo passou e eu cresci, é assim que acontece com as pessoas desde que o mundo é mundo. As apresentadoras também mudaram, assim como o seu público. Umas mudaram tanto que até viraram crentes, dessas bem chatas, caso da Mara Maravilha, que depois provavelmente deve ter gravado um ou dois albuns gospeis cuja fama é desconhecida. A Xuxa saiu dos programas diários e matinais para um remendado nas manhãs de sábado, um de adolescentes nas tardes de domingo. A Eliana foi fazer programas, vespertinos, na emissora dos evangélicos, a Record, usando crianças explicitamente em músicas que satirizavam outros elementos da TV brasileira. A Angélica, foi criando seus programas cheios de altos e baixos e fato é que todas elas, apresentadoras, que ainda resistem na TV apresentam programas efêmeros para falar de coisas irrelevantes. 

Embora atualmente eu ache as apresentadoras entendiantes, e por isso não me interesso por seus programas ou pelas coisas que elas têm a dizer, não as odeio, como muitas pessoas anônimas por aí declaram como se isso fosse motivo para se ter orgulho. Às vezes até as assisto as aparições das apresentadoras, mas por preguiça de trocar de canal ou por osmose. Foi isso o que aconteceu e assim assisti, depois de um tempo com maior atenção, a entrevista da Xuxa para o Fantástico. Notei também que durante a entrevista bombaram no Twitter os comentários criticando a apresentadora, o Fantástico ou a Globo. Porém, críticas destrutivas, efêmeras e sem profundidade, falavam de coisas sem importância, sobre a voz dela (que é bem peculiar), sua estética jovem apesar da idade mais avançada que possui, o apelo que a apresentadora tem com o público infantil e que os novos adultos, desprezam uma vez que já gostaram dela por isso e acham que criticando garantem que não serão mais aquelas crianças ingênuas e de mau gosto que gostaram da Xuxa, enfim.

É evidente que a Xuxa é criticável, porém toda crítica, independente de quem seja o homenageado, precisa  ter uma relevância e um sentido claro. É asqueroso e nada moderno, continua sendo medieval uma vez que é insensível atacar, relativizar ou mesmo caçoar da apresentadora por ela ter sido abusada. É como se a Xuxa por ser branca, loura, rica e famosa, talvez até por ser inconveniente e parecer algumas outras coisas socialmente nada elegantes, merecesse passar pelo que passou. Isso é insensível e eu sei que já disse que insensível, mas deixa eu enfatizar isso, cacete!

Além disso, vejo essa mecânica se repetir também com as crianças anônimas e que por isso não irão se tornar pessoas bem sucedidas. E aí, quantas vezes os adultos tem tratado as crianças abusadas como merecedoras daquilo que passaram? É o mesmo que ocorre com as mulheres que são estupradas e diz que elas o foram porque quiseram ou deixaram. É o mesmo que ocorre principalmente com os homossexuais no Brasil com cada violência que sofrem e justifica-se serem eles os culpados por terem uma vida desviada para os padrões morais da maioria, por escolherem um comportamento que a sociedade é bem hostil, por agirem de uma maneira entendida como provocante. 

Espero que nas zonas de guerra ninguém tenha a cidade destruída por mostrar o dedo médio para um tanque de guerra.

Ainda bem que temos ideias próprias e canais para publicarmos nossas opiniões de maneira livre e sem represálias. Contudo, é lamentável que o fato de se poder ter uma opinião tenha deixado o pensamento tão banal, uma vez que uma critica exige também responsabilidade, traduzida em um conhecimento claro sobre o que está sendo observado e do que as próprias ideias podem repercutir ou significar. Afinal, que propriedade alguém tem para falar da Xuxa por ela ser tosca quando a relativização que se faz do abuso sexual não tem nada de sofisticado ou elegante?

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Limpe o seu guarda-roupas.


É verdade que no guarda-roupas guardamos muito mais que roupas. Eu coloco ali papelaria, perfumes e outros cosméticos, peças de computadores e etc. Mas o essencial mesmo é guardar roupas. E com o tempo, trabalho, crediário nas lojas de varejo, vamos comprando roupas. Usamos essas roupas até que um dia elas ficam inapropriadas para o uso. Não, elas não ficam rasgadas, porém elas ficam desbotadas, as cores perdem aquela vivacidade, o tecido não é mais elástico, macio e assentado, coisas poucas, no entanto indesejadas em uma sociedade estética e consumista.

Tudo bem, eu não vou fazer aqui um discurso ambientalista ou anti-consumista. Contudo quero falar sobre o benefício de se fazer uma limpeza no guarda-roupas, pois a dinâmica de comprar roupas, usá-la até o dia que achamos que as usamos demais e que elas não são tão confortáveis e bonitas empanturra nosso guarda-roupas. Limpá-lo faz perceber que guardamos muita coisa às quais somos apegados, mas que realmente não precisamos e que quando tiramos dali abrem espaço para coisas novas.

Além disso, tirar roupas velhas do guarda-roupas é um exercício de memórias e sensações. Lembramos-nos dos dias que compramos aquelas roupas, o que fazíamos antes ou depois, a que eventos fomos com aquela roupa, quem estava conosco, em que consistia a nossa rotina por aqueles dias, lembramos-nos do que não tínhamos e também do que perdemos, em geral bem pouco. Mas enfim. No meu caso, isso me traz um misto de saudade e satisfação por ter chegado aonde cheguei hoje.

Também, tirar roupa de um lugar requer tirar outras também, o que deixa certo rastro de bagunça, portanto precisamos organizar melhor o espaço, criar novos critérios de organização. Roupas para dias especiais passam a ser usadas para ir ao trabalho e as roupas do trabalho servem para usarmos em casa naquele sábado quente de se lavar o carro. Nesse, tira, muda de lugar, junta, separa, muda de lugar outra vez, coloca, enfim, aproveitamos e encontramos outras coisas que pensávamos ter perdido, por exemplo, R$60,00, ou o telefone daquele especialista médico que pensamos hoje não ser mais necessário, por enquanto pelo menos.

As roupas velhas, olhar para elas nos dá um misto de felicidade, pois pensamos logo compraremos mais. Todavia também sentimos um pouco de egoísmo, pois temos um apego sentimental por elas e até sentimos pena delas ou remorso. Porém, se levamos para alguém que precisa mais, tranquiliza e recompensa saber que elas terão uma segunda chance servindo para pessoas que, por falta de condição talvez, não sejam tão efêmeras como nós.

E assim, vai se uma mala de coisas velhas embora da minha vida. É bem verdade que eu deveria organizar mais meu espaço, tirar velhas coisas também, não só objetos, mas memórias, costumes, pessoas e tudo mais.

Enfim, limpe o seu guarda-roupas. 

sábado, 10 de março de 2012

Meu primeiro assassinato


As contas do começo do ano logo viriam bater a minha porta e dessa vez, mais altas do que nunca antes eu já paguei. Por outro lado, eu havia trabalhado longas horas esse mês, era de esperar um salário que seria pelo menos o dobro do que eu recebia antes. Mais não, logo vi via internet o meu contra cheque e como assim, R$800,00? Isso não pagaria nem a fatura do cartão de crédito, o que dirá as outras coisas. Mesmo assim veio a ordem, precisa trabalhar mais aquele turno. Mas e o meu salário? O que importa, se não trabalhar não recebe, disse alguém. E daí que eu tivesse trabalhando e recebendo parcialmente o que me fosse de direito? Fiquei puto, fui trabalhar e quis mandar todo mundo ir à merda.
Durante a noite não dormi nada, fiquei pensando na cara dele querendo se vingar de mim. Deve que dormia feliz, com um bom sono porque sabia que havia ter me coagido. Nem adiantaria eu contar algo a alguém, ele também já havia cooptado todo o resto ao favor dele. Ético? Jamais, e a gente fica pensando nela e na falta que ela faz. A solução seria ir embora do país, ir para algum lugar mais sério. Mas e ele? Ficaria lá, numa boa por mera vingança posando ainda de heróis para os analfabetos que gostam dele? A raiva não passava e dormi mal.
Logo pela manhã, ao sair, verifiquei o volume na caixa de correio e lá estavam os primeiros boletos. Santa Virgem Mãe de Deus, as contas vieram mais altas do que nunca e o salário na conta não faria nem cócegas naquele molho de papéis. Pensei, quem sabe eu vendo meu corpo, tem muita gente que deseja dele usufruir, valeria alguns trocados, colocaria algumas contas em dia e quem sabe também eu me divertiria. Loucura, eu não fico com qualquer pessoa, imagina ter que fazer análise de crédito e demais atributos para deixar que alguém me possua?
Quando cheguei ao trabalho, consolou um pouco saber que não só eu, mas vários outros colegas também foram lesados por causa daquele viado, filho de uma puta arrombada, que é isso que ele é. Ele e aquele pau mandado dele. Ai que irritação e todo mundo sem saber o que fazer? Hein, e as instituições deste país? Ah é, elas não valem nada e um sujeito daquele só fez isso com a gente porque pensou que iria escapar ileso. Trabalho irritado, pensando o tempo todo no maldito do salário? E se eu ligasse para os meus credores e explicasse a situação, refinanciasse as dívidas? E se eu fosse à televisão ou ao rádio, ou quem sabe aproveitasse as redes sociais? Porém a televisão e o rádio acham que o que aquele cachorro e trombadinha fez algo correto.
Os dias passando, a raiva aumentando conforme chegavam os novos boletos e suas cifras enlouquecedoras. Aquilo será pressão psicológica? Alguém deve ter lido a Arte da Guerra ou O Príncipe e estava fazendo tudo aquilo de propósito para controlar a mim e aos colegas pelo medo. Deveria fazer alguma coisa, ah sim, isso é verdade. Mas o que eu deveria fazer? Vejamos.
Liguei para a sala dele e disse que para a secretária que eu era o assessor de um amigo de infância e colega de profissão, de outro estado é claro. Inventei uma história cafona, até bonita, pena ser mentira e para a minha surpresa e sorte, a bobona da secretária acreditou e me passou o endereço exato da casa dele. No final de semana fui a casa do meu avô, uma sítio, fui até o celeiro e vasculhei umas prateleiras altas, achei uma caixa de metal e ela estava lá, escondida, desde o meus 14 anos, que foi quando meu avô me mostrou o que era e onde a guardava. Não queria que ninguém visse ou soubesse daquilo, usasse somente, quem sabe em um estado de sítio. Tudo bem.
Na segunda feira, durante a tarde, inventei uma dor de cabeça, peguei um atestado médico e liguei avisando que não compareceria no turno da noite. Às seis horas da tarde fui à sua casa, numa rua bucólica de um bairro clássico de Goiânia, logo o vi virando a esquina e me escondi atrás de um cinematográfico arbusto do vizinho. Ele se aproximou do portão, enquanto procurava as chaves naquela pasta cheia de documentos imorais, me aproximei tão silenciosamente como um gato de rua em busca de uma barata de esgoto. Seus olhos ficaram arregalados, quando lhe encostei a revólver e disse para não fazer escândalo algum, abrir o portão e entrarmos sutilmente. Ele, que sempre soube que entre ele e eu existia uma diferença de poder gigantesca, tanto é que ele aproveitou disso para me chamar de vagabundo e me fazer dever à praça, obedeceu e com movimentos lentos, mas aflitos, abriu o portão, entrou junto comigo e o fechou.
O portão trancado, afastei-me e o mandei seguir e abrir a casa, ele foi até a porta dos fundos e abriu. Entramos pela área de serviço, abrimos a porta da cozinha, arrumada e limpa, com algumas panelas de aço sobre a pia. Devo ser sincero e confessar que naquele momento pensei em me arrepender, parar com tudo aquilo e dizer que eu só queria conversar, aquela cara de queijo branco era de cortar o coração. Bem, mas me lembrei que aquilo era uma cascavel como diz a cultura popular, um lobo em pele de cordeiro, que me agradeceria pela piedade, diria que me ajudaria, mas que no entanto logo daria um jeito de mandar a polícia me pegar, fazer todo um terror psicológico em minha cabeça e me matar assim como em Tropa de Elite.
Tropa de Elite, terror psicológico, barganha, medo? Tive uma ideia! Mandei-o parar sua marcha fúnebre, caso contrário soltaria o gatilho e a munição entraria diretamente pelo cérebro dedicado à maldade dele. Vi aquelas lindas panelas de teflon da Tramontina e disse que ia atirar, puxei o gatilho e derrubei várias delas no chão fazendo um barulho enorme. Ele se imaginando ferido fatalmente se jogou ao chão para viver seus últimos momentos em agonia. Oh, que dó, que dó, que dó, que dó! Chutei-lhe os cocos e mandei sentar-se na mesa cozinha de frente para mim. Ele me olhou e começou a falar, para conversarmos, tentar se justificar pelo injustificável! Joguei um copo de vidro na cabeça, que lhe deixou uma mancha roxa e ligeiramente tonto, e mandei calar a boca!
Com a arma ainda apontada para ele olhei em volta, aquela decoração da classe média alta, ou seja, fingindo ser erudita e cult. Mandei-o o levantar e me mostrar a casa. Ele foi andando a frente, evidentemente, me falando sobre os retratos de família, sobre as lembrancinhas de casamentos, batizados, formaturas e inaugurações de hipermercados. O telefone e tocou e pediu para que atendesse com naturalidade, coloquei o revolver em sua cabeça e ele começou a falar com sua afilhada calmamente e dizendo que depois lhe levaria um bombom, mas que naquela hora estava muito ocupado. Desligou o telefone e me senti meio que em um filme de Tarantino, eis que começo a assoviar The Killer Song.
Subimos para o andar de cima, ao passar pela escada perguntei-lhe se já havia assistido Senhora do Destino. Disse-me que era culto, não gostava de cultura de massas, que dava valor ao conhecimento em detrimento da alienação. Retruquei perguntando se é valor ao conhecimento quem corta salário de professor por pura vingança.
Entramos em seu quarto, vários travesseiros importados enchidos com penas de ganso, presente dos amigos importantes. Mandei que calasse a boca de um jeito pseudo-sereno, senti o meu sangue ferver! Abri a penteadeira, quanto perfume caro, peguei o Hugo Boss e disse “Beba isso!”. Ele me perguntou porque e eu apenas olhei para o frasco e para o rosto dele depois! Ele bebeu até que vomitou o perfume e tudo mais que estivesse em seu estomago. Após recuperar o fôlego me disse que viu em uma novela da Glória Perez uma menina viciada em drogas bebendo perfume em uma crise de abstinência (será que ele estava falando da Mel de O Clone?). Achei contraditório alguém que não gosta de novela falar a respeito de uma.
Veio-me o clipe de Rolling In The Deep na cabeça, pensei que seria divertido jogar pratos contra a parede, mas ao invés disso, jogar os perfumes dele contra a parede. Então comecei a jogar aqueles frascos italianos, franceses, ingleses cantarolando a parte do back vocal que diz sobre desejar nunca ter conhecido o eu lírico da musica da gordinha inglesa. Olhei para sua cara de tédio enquanto segurava um Yves Saint Laurent e disse-lhe para ficar na parede na qual eu projetava aquelas fragrâncias deliciosas. Ele disse me por favor como se fosse um oriental nos filmes do Jack Chan e respondi dizendo apenas que minha paciência estava acabando. Juro que até pareceu ensaiado quando o vizinho colocou Rolling In The Deep para tocar bem alto enquanto eu lhe fazia chorar com a dor, o terror, a aflição e os sangramentos intensos. Falando assim parece que não foi desumano, mas foi! E o melhor de tudo é que o álcool dos perfumes lhe fazia arder os sangramentos.
Cansei-me daquilo. Parei e fiquei olhando os travesseiros! Pulei em pé sobre a cama e comecei a rasgar tudo cantando sobre os dias de cão enquanto ouvi mentalmente Florence and The Machine. Ele saiu correndo pela porta, fui atrás no mesmo instante e o vi descendo as escadas, até o momento que tropeçou e terminou seu trajeto rolando. “Lá lá lá uei lerê lereiiii, lá lê lerê lerei, é a vida deste meu lugar é a vida”. Parei no alto da escada, apontei lhe a arma enquanto eu o via gemendo de dor e falei sobre a música de abertura de Senhora do Destino, novela na qual Nazaré Tedesco matava seus inimigos derrubando-os na escada.
Desci e outra vez cantarolei Encontros e Despedidas. Perguntei-lhe onde estava o Dorflex e ele me respondeu que na cozinha. Mandei ficar de pé se não houvesse quebrado nada. Fiz assim para lhe dar alguma esperança. Ele levantou-se e mandei subir a escada e ele perguntou sobre o Dorflex, respondi que ele não precisará mais. Ele subiu e eu logo atrás. Disse-me que precisava ir ao banheiro, como se eu não tivesse desconfiado que ele temia que eu o derrubasse na escada. Ele entrou no banheiro e eu fui logo atrás. Olhamos juntos o espelho, ele abriu a torneira, fechou os olhos ensanguentados e dei-lhe uma coronhada na cabeça. Ao desequilibrar-se, bati a cabeça dele quatro vezes no espelho do lavatório, na segunda e quarta consegui danificar o nosso reflexo, além de seu rosto mais do que nunca. Parei para respirar e quando ele abriu a boca para me dizer algo acertei-lhe o nariz na torneira de R$1200,00 comprada na Leroy Merlin, conforme disse-me um conhecido que temos em comum. Dentro da bacia do lavatório notei três fragmentos brancos, eram dois incisivos e um canino.
Parei para respirar, nunca havia feito aquilo e sentia um misto de ódio efervescente, desses que queima todo nosso corpo tamanha a ira, com felicidade porque não sabia que coisas de filme e novela pudessem dar tão certo. Olhei para o vaso sanitário e disse que lhe daria uma aula de Geografia ao explicar sobre o Efeito de Coriolis. Ele estava quase desacordado arrastei-lhe até a beirada do vaso e bati-lhe a testa na quina. Ele conseguiu segurar-me pelos cabelos, enfiei sua cabeça dentro da louça, apertei da descarga e vi o azulado do desinfetante tornar-se roxo devido o sangue vermelho que ia surgindo por ali. Meus cabelos doíam muito, mas permaneci firme por segundos, até a hora que ele realmente começou a lutar pela vida! Puxei-lhe e bati sua cabeça outra vez, desta vez na parede. Afastei-me, peguei a chave do banheiro, a arma e o tranquei naquele ambiente. Atirar nele definitivamente eu não teria coragem, mas deveria matá-lo logo.
Desci até a cozinha, peguei algumas das panelas, enchia-as de água e levei-as ao fogo. Procurei na área de serviço algo que pudesse amarrá-lo, no entanto não existia. Peguei uma faca e cortei os varais, feitos com cordas de nylon. Peguei um pano de prato na cozinha e subi com as cordas para o banheiro, cuidadosamente destranquei a porta, ele estava no chão, havia sujado inclusive as toalhas Buddemeyer com seu sangue corrupto, vingativo e nojento do sudoeste de Goiás. Estava fraco e agonizando.
Embora tivesse levado vários golpes, um deles me deixou o nariz sangrando, consegui amarrar-lhe as mãos e os pés e amordaçar lhe. Arrastei para fora dali, usando as técnicas de imobilização que aprendi no curso de primeiros socorros, levei-o até o topo da escada, de onde o joguei, a despeito de seus grunhidos de dor e desespero. Diz o ditado que vaso ruim não quebra, e realmente não quebra. Ele permanecia vivo e respirando. Novamente o arrastei até a cozinha.
Parei, sentei-me na cadeira. Olhei tudo e volta e pensei que estivesse louco e em um pesadelo. Como assim, eu matando uma pessoa? Eu seria preso, não porque este país é justo, mas sim porque matei o colega dos meus algozes porque esse tal colega ter me filha da putado. Lembrei-me do contra cheque, das suas falas na televisão, dos jornalistas comprados por ele. Vagabundo. Joguei as panelas com água quente sobre o seu corpo e ele grunhia, gritava, debatia, fugia feito um minhôco para longe de mim e daquela água efervescente do chão. Em vão, pois eu lhe fazia um franco pele vermelha derrubando a calda a 100° C. A água acabou, sua pele estava bem vermelha e ele conseguiu me xingar de viado.
Fui à área de serviço e enchi uma bacia com água, o arrastei até ali e ele parou de se mexer. Acho que teve um desmaio, aproveitei e enfiei a cabeça dentro da água e vi sair bolhas de ar de sua boca ensanguentada. Continuei, ele voltou a se debater e eu me mantive forte, segurei sua cabeça continuamente dentro da água por uns dez minutos, mesmo após ele não se mexer e nem sair mais bolhas. Pensei então, missão cumprida. Mas lembrei-me que ele me chamou de viado, abri-lhe a calça e assim como em Tropa de Elite eu enfiei a vassoura e também o rodo, o esfregão e a pá de lixo, juntos! Fui ao jardim e para fechar com chave de ouro, eu trouxe a mangueira, enfiei no conjunto e abri a torneira fazendo lhe uma chuca permanente.
Revirei seu quarto, procurei os dólares, os euros, o dinheiro, joias e relógios, tomei um banho. Peguei minhas coisas e fugi em seu carro até uma cidade da fronteira, localizada no estado vizinho. Abandonei o carro, viajei de ônibus até Chile, atravessando o Paraguai. Em Santiago embarquei para Madrid, comprei um notebook e viajei no dia seguinte para Pequim, de onde embarquei para onde estou atualmente, o Tibet. Como já estou ciente que Interpol virá me buscar, amanhã mesmo me mando daqui e escrevo uma carta para a Anistia Internacional suplicando proteção.








P.S.: É evidente que isto é uma obra de ficção, mal feita diga-se de passagem. Mas uma maneira de expelir meu ódio e minha indignação pelo secretário da educação de Goiás, Thiago Peixoto, e o governador do estado, Marconi Perillo, a minha vítima, terem cortado meu ponto por uma greve que é justa e legal e que por isso a lei proíbe corte salariais. Isto, portanto, é uma obra de humor e prefiro que permaneça assim. 

sexta-feira, 2 de março de 2012

Por que o socialismo não é progresso para homossexuais.


Após 1964 houve um golpe de Estado no Brasil e os militares tomaram o governo. Nos anos seguintes houve o enfraquecimento de instituições, leis e princípios. Liberdades foram caçadas, entre elas a política, a de expressão e a de imprensa. Os militares sucatearam o ensino público, endividaram o país, acirraram as desigualdades sociais e produziram uma série de outras catástrofes sociais, econômicas e políticas. Os militares estavam a serviço de preceitos capitalistas e sustentados em cima de uma moral conservadora. Fizeram um desserviço ao país, nunca pagaram por isso e tentam a qualquer custo impedir que essa história seja investigada.
Opostos a desordem da Ditadura Militar, surgiram naquele tempo vários grupos de professores, estudantes, jornalistas, artistas, religiosos, enfim, que em geral eram alinhados aos preceitos socialistas e que defendiam a liberdade e a justiça social. Nestes grupos estiveram presentes várias minorias, favoráveis às modificações do status quo, e que mais a frente fundaram partidos de esquerda.

Quando acabou a ditadura e a democracia ganhou espaço, esses partidos ganharam mais poderes políticos e produziram debates e avanços no concernente a muito das demandas. Em 2002, um deles, o Partido dos Trabalhadores, elegeu Luís Inácio Lula da Silva presidente da República tendo como grande eleitorado os homossexuais. De Lula se esperou avanços sociais. Porém as alianças com conservadores fizeram com que o PT repetisse problemas clássicos de corrupção, administração e avançasse pouco em assuntos até então esperados, como direitos civis para os homoafetivos.
No ano de 2010 o ideal socialista surgiu novamente nas eleições através de outros partidos menores e no discurso do PT, que conseguiu eleger Dilma Rousseff presidente. Novamente uma parcela significativa do grupo de pessoas homossexuais ajudou a eleger a candidata do PT esperando outra vez ter as demandas contempladas. Contudo, já nos primeiros meses, Dilma, e o socialismo que foi lhe atribuído, demostrou-se antagônica às requisições da minoria.
É bem verdade que muitos socialistas acusam o PT, Lula, Dilma e seus parceiros de não serem mais socialistas, entre os motivos está esse posicionamento conservador. Porém, para quem espera que socialismo seja tipicamente progressista precisa assistir Antes do Anoitecer, filme sobre a biografia do escritor cubano e homossexual Reinaldo Arenas, no qual é mostrado que um projeto socialista mais radical, como o cubano, não é razão para se pensar que um país socialista será um paraíso para homossexuais.

Arenas nasceu em Cuba quando o país ainda era uma ditadura capitalista, desigual e desde já conservadora. A Revolução Socialista, antes vista com desconfiança por uma parcela da sociedade cubana, trouxe a promessa de uma vida mais justa e livre. Porém com o passar do tempo e o firmamento do regime do socialista o escritor, e os amigos que o cerca, sentiu o recrudescimento do governo para com os homossexuais.
Algo que até então era visto como uma fanfarra inócua passou a ser visto como uma subversão a Revolução Socialista. Por quê? Para o regime de Fidel Castro e afins, a homossexualidade é um comportamento descompromissado com o projeto de sociedade almejado, mais do que isso, um comportamento do império capitalista americano. Vemos portanto a truculência, condenações sumárias e prisões em situações degradantes, coisas que revoltam qualquer um que tem anseio de justiça e de humanidade mínimo.

Em Cuba, tanto como em qualquer ditadura, tanto quanto em qualquer governo burguês, é criado um ideal comum e maior de projeto social, cujo qual é necessário defender dos inimigos que são eleitos por quem estar no poder. Esse projeto social justifica que algumas demandas sejam colocadas de lado ou simplesmente reprimidas. Será que temos então semelhanças com o governo de Dilma Rousseff e as suas justificativas e de seus defensores, inclusive homossexuais, para defendê-lo e levá-lo adiante, posando em fotos para Igreja e pastor, dando ministério e chorando em posse de pessoa abertamente contra os homossexuais? Abertamente contra os homossexuais Dilma Rousseff e o PT não são, mas que por um ideal considerado maior de governo eles não se importam com esse grupo, isso é verdade! 
Enfim, é isto, se homossexuais quiserem cidadania, deverão aprender que devemos ser suprapartidários, afinal de contas, nenhum deles por ser alguma coisa tem um compromisso fechado conosco, preceitos contrários, ah, isso eles tem. 

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Professores que escrevem EXIGIMOS com G

Aqui no meu querido Rio Grande do Meio, conhecido pelo resto do Brasil como Goiás, os professores são desvalorizados assim como no restante do país. O governador querendo ganhar a próxima eleição, enganar a opinião pública mudou o plano de cargos do estado, incorporando outros direitos ao salário base para dizer que pagou o tal piso. Os professores, evidentemente, não gostaram e provavelmente nas próximas semanas eu e minha classe entrará em greve. 

Um dos deputados que votaram contra os professores está sendo ferrenhamente criticado pelos professores e não gostou nada disso. Para desqualificar os professores deu-nos a seguinte aula:



É querido deputado, só mesmo quem não deu valor ao professor para pensar que exigimos se escreve com J de jumento. 

Bela profissão a minha e belo políticos os que meus conterrâneos escolhem.

Peixos, me liga!

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

E 2012 chegou

Eu estava na Avenida Beira-Rio em Florianópolis-SC quando 2012 chegou. Chovia muito naqueles dias e era como se toda aquela água que caia do céu estivesse me lavando, levando embora 2011 e me deixando novo para receber 2012. Poético? Talvez, mas eu achei bonito, pois chuva, mesmo em Florianópolis-SC, onde fui passar minhas férias, é algo ainda assim muito agradável.

Para 2012 não fiz grandes planos, a não ser realizar o que não consegui em 2011. Novo mesmo tracei junto com meus pais que iremos reformar a casa. Quero muito um quarto para colocar coisas da escola, computador, livro e esvaziar outras partes da casa. Quero que o quarto que durmo fique mais vazio e sobre mais espaço para eu olhar para as paredes. Tracei também como meta abaixar as minhas contas, mas uma coisa é certa, a fatura de janeiro de 2012 vai chegar arrebentando. 

Profissionalmente, acho que este será um ano neutro, o governador frustrou o plano de carreiras do Estado, virar mestre ou doutor para dar aula no estado de Goiás é algo que definitivamente não vale a pena. Para eu que cheguei agora, até que a mudança é bem vinda pois meu salário vai subir alguma coisa. A longo prazo não, terei que trabalhar durante 30 anos para ver se meu salário talvez chega a dobrar. Tosco! Vou estudar para concursos públicos mesmo, uma hora atinjo a boa forma e passo em algum que resolva minha vida.

Agora com relação ao coração, desde o último final de ano alguém me causa um frisson, porém o melhor de tudo é saber que eu também lhe causo frisson. Estamos namorando? Ainda tenho aquela insegurança, um medo de não dar certo e lá na frente eu me ferir. Ele também! Mas já posso ouvir aquelas baladas de amor da playlist que eu fiz, com certeza. Então "Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure."

Valeu Vinícius de Morais.

Bem, é isso, peixos me liga!