É
verdade que no guarda-roupas guardamos muito mais que roupas. Eu coloco ali papelaria,
perfumes e outros cosméticos, peças de computadores e etc. Mas o essencial
mesmo é guardar roupas. E com o tempo, trabalho, crediário nas lojas de varejo,
vamos comprando roupas. Usamos essas roupas até que um dia elas ficam
inapropriadas para o uso. Não, elas não ficam rasgadas, porém elas ficam
desbotadas, as cores perdem aquela vivacidade, o tecido não é mais elástico,
macio e assentado, coisas poucas, no entanto indesejadas em uma sociedade
estética e consumista.
Tudo
bem, eu não vou fazer aqui um discurso ambientalista ou anti-consumista.
Contudo quero falar sobre o benefício de se fazer uma limpeza no guarda-roupas,
pois a dinâmica de comprar roupas, usá-la até o dia que achamos que as usamos
demais e que elas não são tão confortáveis e bonitas empanturra nosso
guarda-roupas. Limpá-lo faz perceber que guardamos muita coisa às quais somos
apegados, mas que realmente não precisamos e que quando tiramos dali abrem
espaço para coisas novas.
Além
disso, tirar roupas velhas do guarda-roupas é um exercício de memórias e
sensações. Lembramos-nos dos dias que compramos aquelas roupas, o que fazíamos antes
ou depois, a que eventos fomos com aquela roupa, quem estava conosco, em que
consistia a nossa rotina por aqueles dias, lembramos-nos do que não tínhamos e
também do que perdemos, em geral bem pouco. Mas enfim. No meu caso, isso me
traz um misto de saudade e satisfação por ter chegado aonde cheguei hoje.
Também,
tirar roupa de um lugar requer tirar outras também, o que deixa certo rastro de
bagunça, portanto precisamos organizar melhor o espaço, criar novos critérios
de organização. Roupas para dias especiais passam a ser usadas para ir ao
trabalho e as roupas do trabalho servem para usarmos em casa naquele sábado
quente de se lavar o carro. Nesse, tira, muda de lugar, junta, separa, muda de
lugar outra vez, coloca, enfim, aproveitamos e encontramos outras coisas que
pensávamos ter perdido, por exemplo, R$60,00, ou o telefone daquele especialista
médico que pensamos hoje não ser mais necessário, por enquanto pelo menos.
As
roupas velhas, olhar para elas nos dá um misto de felicidade, pois pensamos
logo compraremos mais. Todavia também sentimos um pouco de egoísmo, pois temos
um apego sentimental por elas e até sentimos pena delas ou remorso. Porém, se
levamos para alguém que precisa mais, tranquiliza e recompensa saber que elas
terão uma segunda chance servindo para pessoas que, por falta de condição
talvez, não sejam tão efêmeras como nós.
E
assim, vai se uma mala de coisas velhas embora da minha vida. É bem verdade que
eu deveria organizar mais meu espaço, tirar velhas coisas também, não só
objetos, mas memórias, costumes, pessoas e tudo mais.
Enfim,
limpe o seu guarda-roupas.